Sensação

 

 

   Já de noite, ele vai para a cozinha e toma seu comprimido para conseguir dormir e segue para a cama, se aconchega nas cobertas e fecha os olhos. O silêncio da noite ajuda a acalmar a mente agitada e a respiração fica mais suave e lenta. Imagens começam a aparecer, vão e vêm sem razão ou lógica certa, apenas acontece. Mergulhando cada vez mais nas imagens aleatórias até algo fazê-lo voltar, sentiu-se como fosse sugado de volta e acordou num pequeno espanto, sentiu que algo caminhava sobre sua perna.
   Um frio na barriga seguiu logo depois de um tapa e depois na retirada das cobertas para ver se tinha mesmo algo e, para sua surpresa e alívio, não tinha nada, foi apenas uma sensação estranha. Nada com o que se preocupar e voltou ao seu aconchego, voltando à calmaria e ao silêncio. Voltando ao estado de sonolência, no meio de tantas imagens confusas, a de uma aranha negra faz seu coração disparar e fazendo-o acordar novamente.
   Resolveu sentar um pouco antes de tentar dormir, para ver se acalmava um pouco. A sensação se algo em sua perna voltou e ele repetiu o tapa, levantou as cobertas e não havia nada, novamente. Entranhou e resolveu levantar de vez e tirar todas as cobertas para ter certeza de que não havia nada.
   Com uma busca cuidadosa e analítica, estranhamente não achou nada, e pelo seu alívio também. Respirou fundo e voltou para a cama. Tentando se acalmar para ver se dormia logo, pois já era tarde e precisava dormir. Foi quando sentiu que algo subia pelo seu braço, logo abriu os olhos e deu outro tapa no braço, novamente não havia nada. Retirou todas as cobertas da cama, sentou-se e ficou olhando atentamente para seu corpo.
   Ao menor sinal daquela sensação ele deixaria acontecer, e aconteceu novamente, desta vez no outro braço, não havia nada, mas ele sentia que algo subia pela sua pele, depois a sensação começou também na sua perna e depois na outra, cada vez mais forte, como se centenas de aranhas subissem pelo seu corpo, ele ficou agonizando naquela sensação olhando bem para seu corpo e, apesar de sentir, não havia nenhuma vida naquele quarto a não ser ele.
   Antes que a sensação chegasse a cabeça ele começou a se estapear todo para ver se aquilo parava, como se estivesse matando as aranhas, batia com força. Quanto mais ele se estapeava mais a sensação voltava e dominava seu corpo. Não conseguia parar de pensar que coisa horrível era aquela, deveria ser efeito do remédio que tomara, tinha que achar algum jeito de parar aquela sensação.
   Rolando no chão e gritando, procurando um jeito de parar aquela sensação que parecia se tornar cada vez mais real. Os tapas já não adiantavam e teria que partir para algo mais forte. No ataque de desespero, correu até a cozinha e pegou um frasco de álcool, jogou por todo o corpo e depois pegou o fósforo e se incendiou. A sensação foi substituída imediatamente por uma dor intensa e correu em chamas para o chuveiro. Antes que desse conta dos danos, desacordou de tanta dor.
   Por sorte, um dos vizinhos de seu apartamento escutou os gritos e ligou para a polícia. Acordou depois de alguns dias na cama de um hospital, todo enfaixado e imobilizado. Ainda sentia seu corpo doer e estava extremamente desconfortável, seu único alívio era de que aquela sensação maldita passara. Alívio que logo passou quando se deparou com uma aranha negra  parada sobre sua barriga, aparentando encará-lo.
   Ele começou a gritar, chamando qualquer um que o escutasse, uma enfermeira entra no quarto rapidamente e tira a aranha de cima dele com um pano. Ele logo agradeceu por não ser uma ilusão. Depois ela lhe explicou o que tinha acontecido e de seu estado, ele iria se recuperar, mas algumas marcas de queimaduras jamais sairiam de seu corpo.
   Depois de ele lhe contar porque fizera aquilo, ela providenciou um psicólogo e pelos exames feitos, o remédio que ele tinha tomado poderia ter causado tudo aquilo. Mas o medo de aranha ficaria marcado para sempre, em seu corpo e em sua mente.
   Cerca de um ano após o ocorrido, ele se encontra em viajem na China, em frente a uma barraquinha de rua que vendia espetos de insetos. Ele fez seu pedido e foi sentar em um banco para fazer sua refeição, retirou um espeto de aranhas pequenas e cozidas do saco e comeu uma por uma. Degustando seu medo e superando seu trauma. A partir deste dia seguiu um novo lema para a sua vida: O que não te mata na primeira vez, não te mata na segunda e o que não te mata só te faz ficar mais forte. 

 

 

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