As cruéis doenças da modernidade

15/09/2012 02:20

 

As cruéis doenças da modernidade

 

   Em um consultório psiquiátrico qualquer.....
- Dr, eu não consigo dormir. Tenho insônia, acho que estou com síndrome do pânico.
- Tome esse calmante quando se sentir assim. Você vai dormir melhor.
2 meses de calmante depois
-Dr. Eu estou dormindo muito. Preciso de um estimulante. Acho que estou com depressão...
- Vou passar um anti-depressivo e você vai se sentir melhor.
   Brincadeiras à parte, às vezes fico impressionada como as tais doenças da modernidade vêm sendo banalizadas. Síndrome do Pânico, depressão, bipolaridade.  É incrível como a qualquer decepção ou momento triste as pessoas não hesitam em dizer “nossa, estou numa depressão”. Dá vontade de bater na boca, lavar com sabão! “Perdoa, ela não sabe o que diz”
E bipolaridade então. Ao contrário do que muitos pensam, bipolaridade não é aquela pessoa que muda de opinião durante o dia. De manhã era favorável à pena de morte e antes de dormir acha isso um absurdo. Não...essa pessoa já era descrita pelo rei Raul como  uma metamorfose ambulante, sujeito esse muito diferente do bipolar. 
   O bipolar é o antigo maníaco depressivo. Clareou? e se o que você lembra de maníaco depressivo como uma  pessoa que pode se matar de tristeza ou de alegria, você acertou. Por isso, pense duas vezes antes de dizer “eu sou bipolar”. Você é normal se simplesmente não sabe o que quer da vida, se um dia quer ser médico e no outro advogado. 
  A bipolaridade é sim, uma doença grave, na qual, a grosso modo ( e digo a grosso modo porque ela tem variantes, gravidades e tipos) a pessoa passa um período muito “feliz”, cheio de si, dono da razão, não pode ser contrariada, tornando-se agressiva, se acha a pessoa dona da energia mais positiva da América Latina, vai ao shopping e gasta horrores, motivada por um otimismo descomunal de que ela vai ganhar grana para pagar tudo aquilo. Essa é a fase maníaca. Uma fase pseudofeliz. Digo pseudo porque mesmo nela, a pessoa tem um impulso suicida sério. É muita emoção, emoções fortes, com irritação constante. Irritação com as pessoas e com ela mesma. E digo pseudo também porque ela é substituída pela fase depressiva, da qual a pessoa fica com a autoestima completamente ao chão, não tem forças para sair, comunicar-se, chora o tempo todo, não tem vontade de sexo e também pensa em suicídio, pois afinal, a vida não tem mais sentido. Tirando o fato de que, na fase maníaca, os bipolares magoam muitas pessoas que amam, não raramente traem (ato totalmente ligado a autoestima) e, na fase depressiva,  se arrependem de tudo isso.
   A cura? Não, ela não existe. O bipolar tomará remédios a vida inteira, para equilibrar o humor. Para viver um pouco melhor. Sobreviver, porque é uma doença cruel com quem tem. E essa pessoa terá que passar por acompanhamento psiquiátrico até a morte. E isso acontece com a maioria das doenças da modernidade.
   Você vai continuar falando que é bipolar? Melhor pensar. Vai que passa um anjo e diz amem e você terá um problema, um problema eterno. É uma doença que traz muito sofrimento.  Imagina você numa turbulência de emoções dessa, a vida inteira. 
E assim com depressão e síndrome do pânico. Não acho que os tempos modernos facilitem esse tipo de patologia. Acredito sim que, atualmente, elas são facilmente detectadas. Mas há também o exagero. Acho complicada a facilidade com que é receitado um anti-depressivo, por exemplo.  Não pode ser assim. Acho estranho o desespero por achar uma saída e uma rápida solução para uma angústia, que vai passar em alguns dias. Não é uma síndrome do pânico...é só uma angústia. Quantas vezes não ficamos angustiados? Mas as pessoas não são fortes mais. O mundo moderno criou pessoas práticas....mas fracas. Claro que a patologia existe. Tem quem a possua de verdade e esses sim precisam de tratamento. Mas não é algo banal. 
E por fim, proteja-se. Energeticamente, o mundo está com energias fortes e ruins. Mas proteja-se também do médico de convênio, que mal te examina e receita remédio e do hospital público, que diagnostica que você tem bipolaridade, mas te acompanha com uma consulta psiquiátrica por ano, que é o que você consegue pelo SUS.
 
Luciana Garcia