Entendendo as panelas

15/06/2012 18:39

 

Entendendo as panelas

 

   Eu sempre critiquei coisas segmentadas. Sempre tive birra de cabelereiro para negros, baladas para gays, bairro com festas só para japonês e por aí vai. Acho que quanto mais segmentação, mais se afirma o preconceito. Afinal, se queremos igualdade, para que segmentar?
   E sempre achei errada essa formação de panelas. Exemplo: primeiro dia de aula, um japonês no fundo da sala e um japonês na primeira fileira. No segundo dia de aula eles estarão juntos e muitas vezes fechados em seu mundo oriental, falando japonês.
   Isso tudo nunca entrou na minha cabeça. De vez separar, vamos unir! Vamos conviver pra um entender a cultura do outro. Vamos apenas ser iguais. Mas, vivenciando certas situações, comecei a entender um pouco o outro lado.
   Nas últimas semanas estive viajando com um grupo de jovens australianos. É uma agência famosa lá na Oceania que leva Canadenses, Australianos, Americanos e Neo Zelandenses para diversos lugares do mundo. Pensando em treinar meu inglês, entrei de gaiato.  Bem de gaiato porque era a única que falava outra língua se não o inglês. Insano. Mas uma experiência única e maravilhosa.
   Claro que senti preconceito por ser de um pais de terceiro mundo, famoso pelo desenho Rio, que mostra um lado nem tão bom de nosso pais. Senti em indignações quando eu falava que a Austrália era parecida com o Brasil “naoo!!é muito diferente”. Mas eu só estava falando de clima e paisagem. Senti preconceito em comentários do tipo “achei que no Brasil só tivesse gente com pele escura”. Ou em perguntas do tipo “voce mora perto de alguma floresta?”.
   Mas não foi um preconceito negro. Foi uma falta de informação, mesmo porque, todos, mas todos mesmo me trataram muito bem e acabei fazendo grandes amigos.
   Mas mesmo assim, quando eu via uma excursão de brasileiros, a vontade era de correr abraçar as pessoas, conversar em português, falar sobre  a novela e dividir uma caipirinha. Um dia me peguei falando “look friends, my flag, my country, my family, my people”.  Quando uma excursão passou no Vaticano com a bandeirona verde e amarela. E juro que mesmo odiando, dancei com gosto o “Ai se eu te pego “, matando a saudade do Brasil...E cá entre nós, dancei em TODOS os países da Europa. Sim! Em todos eles amam essa musica, e na versão brasuca!É febre por aqui!
   E em Amsterdam fiz questão de ir num bar e restaurante brasileiro. Comer feijuca. Fiz amigos brasileiros. Os australianos ficaram com ciúme. Mas, mesmo criticando a segmentação, eu gostei de encontrar brasileiros e conversar, gostei de topar com estabelecimentos verde e amarelo de vez em quando e ouvir musica brasileira (mesmo não sendo do meu gosto: Ai se te pego, Quero Tchu e Gustavo Lima tche tchere ...). Minha ideia era me inserir numa cultura diferente, pra conhecer, pra praticar a língua e fiz isso muito seriamente e com muito louvor..mas...sabe, encontrar brasileiros no caminho eram momentos raros, mas davam um alivio, era um momento válvula de escape, depois de penar prestando atenção nas instruções diárias da excursão em inglês, um inglês corrido de Australiano. Mas nessa, entendi o outro lado, entendi a segmentação, afinal, estar em meio aos semelhantes , com os mesmos assuntos e gostos e se sentir parte do rebanho é bom à beça.
PS: Aqui pela Europa uma havaiana custa em torno de 40 euros e todos os modelos têm uma bandeirinha do Brasil na tira. Muitos usam a sandália com a bandeira sem saber que se trata de uma bandeira e muito menos que é do Brasil.
PS 2: Australianos usam havaianas da hora que acordam a hora que vão dormir, para diversas funções, variando de tomar banho a ir na balada, passando por shopping, jantares e passeios turísticos.
PS 3: Para eles quanto mais suja a havaianas melhor. Geralmente usam branca para o encardido aparecer mais.
PS 4: Em Amsterdam eles têm paixão pelo Brasil (música brasileira por todo lado e bares típicos brasileiros sempre cheios de holandeses) e morrem de vontade de casar com brasileira! Eu recebi um pedido de casamento de um desconhecido, enquanto olhava uma vitrine de suvenir.

 

Luciana Garcia