De egoísta a sangue bom

12/08/2011 22:45

De egoísta a sangue bom

 

Engraçado como é a minha relação com a escrita. Eu escrevo todos os dias. É o que fazem os jornalistas. Entretanto, tem dias que escrever deixa de ser uma rotina para se tornar uma lição ou algo que eu queira desabafar, compartilhar ou até mesmo ensinar.

Claro que dessa vez não seria diferente. E escrevo como um desabafo, como uma forma de compartilhar e como uma lição, tudo isso junto.

Parei para reparar no ser humano. Dentro de uma empresa isso fica mais visível. Principalmente quando a empresa é composta por pessoas muito diferentes e, além disso, o ponto mais importante, em crise. Numa crise, descobrimos quem é quem, numa crise percebemos coisas que não perceberíamos e mais, transparecemos coisas em nós mesmos que jamais deixaríamos visíveis a olhos nus em uma situação normal.

O ser humano é mesmo complexo. Existem aqueles que nasceram para o dinheiro, aqueles que nasceram para eles mesmos e aqueles que nasceram para o próximo.

Quem nasce pra dinheiro, só pensa em dinheiro. O que importa para o dinheirista  é o dinheiro! Nossa, mas isso parece muito óbvio. Mas não é. Não é puro e simples dinheiro. É muito mais que isso. Ele não se importa com nada ao redor. Ele olha a conta: caiu salário, então está bom. O dinheirista concorda com tudo, com todos. Não faz grandes amigos, mas é colega de trabalho de todos. Sabe que, pra ter seu dinheiro no fim do mês, ele precisa dos outros. Mas isso é muito diferente de pensar nos outros. Não, esse estilo não pensa nos outros, nem nele, pensa no dinheiro.

Ao contrario daqueles que nascem para eles mesmos. Esse é diferente. O egocêntrico profissional tem o ego grande, inflado. Pra ele o dinheiro é a conseqüência. A causa é o status, o ego. Todos conhecem um egocêntrico. Vamos exercitar a memória. Sabe aquela chefe precoce¿ aquela que com 28 anos foi chamada pra ser gerente e não tinha cacife pra isso. Sim, porque tudo na vida temos que bancar, se quisermos sair de casa, teremos que bancar, tanto financeira como psicologicamente falando. Essa chefe precoce não banca. Ela sabia disso, mas topou o desafio, claro! Ela é egocêntrica. Ela é aquela gerente do RH que o salário do coitadinho estagiário que ganha um salário mínimo não caiu na conta e ela simplesmente fala “minha parte eu fiz”. Claro que fez, o dinheiro dela caiu direitinho. Mas o egocêntrico não faz por maldade. Ele realmente não consegue pensar no outro. É fora da realidade dele. Esse tipo é pior que o dinheirista. Ele passa por cima das pessoas sem dó nem piedade, mas também sem perceber muito. Porque, pra ele os fins justificam os meios de uma forma tão natural, que nem vira maldade. Ele trapaceia sem saber que está trapaceando. O foco dele é tão “crescer, status e poder” que os outros são formigas.

Esse gosta de almoçar com os diretores, ser amiga intima da presidente, mostrar o carro e a casa. Geralmente o novo rico, que nunca viu isso na vida.

Mas chega de densidade. Que gente chata essa que leva a vida tão a sério. Vamos falar sobre os que pensam nos outros. Esse é o sangue bom. O sangue bom vai a todos os happy hours, almoço desde a confraternização dos ajudantes de limpeza até a diretoria estatutária, passando pelo amigo-secreto de ovos de páscoa da galera do telemarketing. Pra ele tanto faz. Somos todos iguais! E isso nele é natural. Ele pensa no bem-estar das pessoas, é sempre aquele que vê o seu stress e tem uma palavra otimista para aquele momento. Pro sangue bom, o salário e o status são coisas irrelevantes. O que ele procura num emprego é o clima bom, o ambiente saudável e pessoas com quem eles possam conversar, trocar experiências. Na minha humilde opinião, este é o tipo mais evoluído de profissional e de ser humano. Ele aprende com a experiência do outro, porque ele ouve o outro. Ele cresce como ser humano porque ele ajuda o outro. Sem perceber, ele se doa, faz o bem. A casa cai, as pessoas se matam e ele abstrai. Para muitos, parece que ele não percebe, o bobo. Mas não, ele sabe que deixar a peteca cair não adianta. Ele se faz de bobo também para conseguir o que quer. Todos têm prazer em ajudá-lo. Se ele precisa de uma documentação, tem 10 querendo providenciar isso pra ele. Se ele precisa de um comunicado, ele é passado na frente da fila de 100. Admiro essas pessoas.  Precisamos mais dessas pelo mundo. Não apenas no corporativo.

Dentro dessas modalidades, existem outras sub modalidades. Poderia escrever cerca de 100 páginas de variações de tipos de pessoas e personalidades.

Mas, acho que essas três já nos permitem uma reflexão. Uma breve reflexão do que queremos ser.

Não respondendo, e sim questionando. Será que seu crescimento está no dinheiro¿ nos cursos no exterior¿

Conheço quem cresceu mais trabalhando em asilos voluntariamente. Conheço quem evoluiu entregando sopa no centro de São Paulo ou simplesmente bateu um breve papo com um morador de rua.

Conheço quem evoluiu sendo legal e educado, simplesmente. Simplesmente não, pra ser legal e educado exige esforço.

Mas conheço quem evoluiu ganhando dinheiro. Ajudou o outro com esse dinheiro.

Assim como conheço aquele que pensava tanto nele, mas tanto, que poupou mãe, pai, irmãos, amigos de pensarem nele, deixando um tempo vago para eles pensarem em outros que precisavam mais. Indiretamente ele ajudou.

O importante é saber usar o que temos de mais forte. E aprender com os erros. Isso sim é essencial.

Pense nisso e faça a sua vida render bons frutos destacando o melhor de sua personalidade.

 

 

Luciana Garcia

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Muito bom!!!!

Jorge Barreiro | 14/08/2011

Lu!!!! Muito bom!!!! Sua crônica da semana passada já foi show e essa melhor ainda!!!! A cada semana melhor!!!! Essa faz qualquer um parar pra pensar... E eu já tô aqui pensando, refletindo em que onde é que me encaixo nisso tudo rsss!!!
Muito bacana essa tua sensibilidade de conseguir identificar estes "tipos"!
Parabéns de novo! Já tô aqui ansioso pra crônica da próxima semana!!!!
Beijossss

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