O problema só muda de lugar

13/01/2012 18:14

O problema só muda de lugar

 

O ano começou já com muita informação. Informação = tragédia. Enchentes no Rio e Minas, Dia de Fúria do maluco que saiu causando pelas ruas de São Paulo, mas o que mais me chamou a atenção foi a desocupação da área da Cracolândia.

Pouco depois do Natal estava eu voltando da cidade de Poá, inaugurando o GPS que havia acabado de ganhar. Claro que sou perdida, se não, não ganharia um GPS. Mas sou teimosa também e teimei com o GPS. Já anoitecendo, perdida, caí nas ruas da região da Cracolândia.

Foi um tapa na cara olhar aquelas pessoas perambulando pelas ruas. Quem assistiu o filme “Nosso Lar” (indico por sinal), vai saber do que estou falando. É como se eu visse a cena do Umbral na vida real. Eu estava no filme. Pessoas magras, sofridas, com olhar desconfiado, corcundas andando sujas pelas ruas envoltas a cobertores velhos e roupas rasgadas. É a animalização do ser humano. Pareciam mendigos, mesmo sabendo que lá poderia haver profissionais, pais de família e até pessoas de famílias ricas.

Nosso preconceito (nosso porque é meu também)  permite apenas o pensamento “olha que bando de drogados, vagabundos que não trabalham e ficam usando tóxicos e roubando por aí”. Mas não é bem assim.  Pensamos no dependente como  alguém “do mal” e esquecemos que é uma DOENÇA progressiva, incurável e fatal. Ser do bem ou do mal nada tem a ver com dependência. Não defendendo o vício, claro, apenas constatando os fatos.

E cada vez que vejo uma nova matéria sobre a desocupação da Cracolândia me dá uma vontade louca de falar: “Não adianta fazer isso, essa é uma medida de revitalização do centro e não de ajuda ao indivíduo, os problemas individuais continuarão lá. Pode mudar o problema de lugar,apenas”.

Dizem que essa medida não era prevista e foi tomada pelo prefeito, antes que o governo federal agisse, ou seja, eleições chegando e a politicagem não querendo largar o osso. Não querem parar de mamar nas vacas do leite de ouro. Traduzindo, “vou manter minha posição e não deixar o PT ganhar forças na prefeitura de São Paulo”. Entretanto, isso revitalizará o centro até as eleições apenas, pois seria muita inocência achar que essas pessoas não voltarão ou, ainda, não ocuparão outro lugar.

E o que fazer? Clínicas? Sim, talvez, com organização. Mas quem não quer, não para. Essas pessoas precisam querer sair da animalização e ver perspectivas em suas vidas. É difícil, a doença não deixa. E o assunto é delicado.

Estou longe de ser a dona da verdade e sinceramente não sei a solução. Nem cabe a mim saber. Não sou entendedora do assunto e nunca passei por isso. Sou apenas uma cidadã  e jornalista odiando a política e observando a realidade. Só o que percebo é que o caminho utilizado hoje pouco é eficaz.

 

 

Luciana Garcia

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