Persuasão

Depois de um tempo, você descobre que bater de frente com as pessoas, em diversas situações, de nada adianta. Quebrei muito a cara até descobrir. Esses dias, vivenciando uma crise de um amigo que mora com os pais e quer ter a liberdade como se morasse só, lembrei de vários episódios. E acabei fazendo uma mistura disso com casos não familiares, que são os que vivo hoje. E percebi como mudamos de comportamento nas duas situações.

Desde pequenos, o que acontece quando pedimos algo para nossos pais, com jeitinho, a famosa chantagem emocional??? Claro, quase sempre conseguimos. Algo do tipo “ai mãe, queria tanto, mas tanto um tênis rosa com molinhas que amortecem a caminhada. Sabe, todas as minhas amigas têm. Eu tenho sonho de ter um deles”. Pronto, falou as palavras mágicas. Aliás, várias delas:

 “minhas amigas têm”: que mãe que quer que seu filho fique pra trás dos coleguinhas?

“meu sonho é ter um”: depois que crescemos, os sonhos são tão mais complexos e difíceis de realizar que a mãe pensa “ela vai ficar tão feliz e é só um tênis”.

Pode ser que não funcione de primeira. Mas continue a chantagem que uma hora ela cai. Mas, se você chegar exigindo, meu caro, aí você nunca terá o tal tênis mágico.

Outro método é falar desesperadamente, sem pausas, só as vantagens do produto. “Mãe, você não acredita, lançaram um tênis, muito bom, evita problemas de coluna, calos e até pé chato, acredita? Andei percebendo que meu pé anda criando uns calinhos nas laterais, estou com complexo, nem tiro mais o tênis na aula de Educação Física, de vergonha de mostrar os calinhos pros coleguinhas. Fora que minha coluna anda doendo tanto, mas tanto..tão nova e já com lordose.Mas acho que esse tênis inventaram pensando em mim. Fora que, imagina? Nem vou precisar gastar com dois médicos: coluna e pé. Ai e ele é lindo, confortável. Poderei usar pra ir pra escola e pra sair. E dura muito...vou usá-lo até minha formatura da faculdade. E olha que ainda nem comecei o ensino médio. O que você acha mãe? Posso guardar minha mesada e o que faltar você me ajuda?”

Mas a revolta é inevitável e típica da adolescência. O poder de persuasão vem com a maturidade. Numa certa idade, começamos a ter uma mente pensante.E muito pensante. E a revolta chega porque nessa fase começamos a ter idéias e opiniões fortes e queremos que elas sejam respeitadas a qualquer custo.

Nas relações “extra-familiares” nem sempre podemos agir com a imposição. E é nessa hora que amadurecemos nesse sentido e aprendemos a ter mais jeito. Se chegarmos para um chefe impondo idéias e fazendo birra, caso elas não sejam aceitas, você já sabe o que acontece, né? Você será promovido. Pra rua ou pro mercado de trabalho. Temos que mostrar ideias, ninguém quer uma planta como funcionário, filho, namorado e afins. Mas temos que aprender a fazer  isso com jeito.

Com amigos a mesma coisa. Se chegarmos com pés no peito, parece birra, mas ninguém vai te ajudar. Chega para um amigo e pede o carro emprestado, com uma abordagem agressiva do tipo “ah cara, empresta o carro...lembra quando te paguei um lanche do Mac né?! Você me deve essa”. Cara folgado né?! Agora experimenta chegar assim “cara, empresta seu carro? É uma gata. Nunca fiquei com uma menina tão linda. Estou curtindo de verdade. E ela tem várias amigas e uma irmã....”.

Além de conseguirmos as coisas mais facilmente, vivemos com uma paz maior. Cansa muito debater toda hora, comprar guerra, impor ideias a qualquer preço. É uma luta sem fim e sem vencedores. Ao passo que, com jeitinho, a luta é ganha. E rápido, sem traumas e sem perder a amizade. Na paz e no amor!

Bom, esse é meu recado da semana. Acreditem, dá certo! Só espero que minha mãe jamais leia esse texto.

Luciana Garcia