Por que só Natal?

03/12/2011 10:03

Por que só no Natal?

 

Antes de tudo, quero deixar claro que meu texto não é uma revolta e sim uma reflexão, mas e o tom da crônica que o deixa assim. Gostaria muito de saber, o que acontece nessa época do ano? Sim, por que as pessoas ficam melhores, perdoam tudo, ajudam os mais necessitados? Esse tal espírito natalino. Ele deveria aparecer o ano inteiro não¿Espírito pascoalino, espirito do dia de Tiradentes,  da árvore, da proclamação da república. Afinal, ser bom é quase uma obrigação. E o ano inteiro, não apenas para conquistar o bom velhinho.

Vejo as pessoas se mobilizando para “adotar” uma criança, então, chega a D. Maria do escritório com um catálogo de pequenos necessitados. Uma carinha mais linda que a outra, algo irresistível e o pensamento é inevitável: “Não vou deixar essa fofura passar um Natal triste”. Aí cada um escolhe um do catálogo, como se fosse escolher um batom no livrinho da Avon e faz o kit. Desde sapato, sabonete, roupa e escova de dente. “Ahh vou caprichar, afinal eu tenho condições”. O problema é que as pessoas esquecem de duas coisas:

- Você não vai salvar o Natal de uma criança dando roupas e um kit higiene, aliás você vai acabar com a ilusão dela de que papai noel existe e criar uma nova crença, no padrasto Noel. Afinal, criança quer mesmo é brinquedo! (ok, exageros à parte...mas criança é criança, independente da classe social).

- Segundo que as pessoas não necessitam de roupas, sabonetes, escova de dente, fraldas apenas na época do ano em que ouvimos “hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou...”. É um botão on\off, começa a musiquinha na Globo e o ser humano se transforma em solidário.

Tem pessoas que visitam instituições nessa época. Ou entregam presentes nas favelas vestidos de papai noel e, durante o ano, se recusam a fazer tais coisas. “Não tenho estrutura psicológica pra ver crianças mal tratadas”. Ah, poupe-me.

Já vi pessoas falando que nunca dão dinheiro para pedintes, pois eles podem comprar bebida e droga, mas que no final do ano eles dão, afinal é Natal. Ué, no Natal pode encher a cara? Fora que eu acho essa teoria absurda. “Se quiser comida eu pago um lanche, agora dinheiro eu não dou!”. Ah então as pessoas só precisam comer, pior, comer o que você quer dar. As pessoas têm gostos e preferências, até mesmo os pobres, acreditem! E outra, se o cara quiser beber, não é seu dinheiro que vai evitar um vício. Ele vai roubar, matar, até mesmo trabalhar pra isso. A consciência é dele! É o livre arbítrio, você fez sua parte. O errado é ele de usar de má fé. A cultura do país da malandragem não nos permite enxergar esse lado da moeda. Achamos errados os que são feitos de bobos e não os que erram. Estranha inversão. Mas enfim, o assunto não é esse.

Só sei que se dividíssemos todas as pessoas que se mobilizam no final do ano para ajudar os necessitados, comprar kits, adotar cartinhas do Correios, visitar instituições, poderíamos dar uma força para a próxima geração, para darmos suporte para uma infância que pode ser perdida. E isso durante todo o ano.

Chegar no escritório e dizer: “Vamos lá....fulana, adota a criancinha do catálogo durante o mês de março, em abril a beltrana será adotada por outra pessoa”. Não digo aqui que teríamos que sustentar filhos alheios durante todo o ano, só poderíamos evitar uma overdose de creme dental no Natal.

 

Luciana Garcia

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