Anjos na avenida

Anjos na avenida

 

Anjos na avenida
 
   Um anjo desceu e resolveu andar pelas ruas das mentiras, da hipocrisia  e da moralidade imoral. A princípio ele teve que ocultar suas asas repletas de mistérios, ele resolveu se misturar aos desumanos. O celestial só queria viver algo novo, poder provar um gosto que nunca tinha se passado por aquela boca doce, completa de dentes brilhantes e amigáveis.
   Tinha resolvido caminhar na calçada, se unir aos pedestres, aos mais variados tipos. Apesar de aventureiro ele era também um tolo, talvez estivesse acostumado de mais a voar por entre as nuvens, não sabia direito como eram as pessoas em chão firme. O perfeito anjo só via bondade, onde na verdade se escondia a mais nojenta má vontade. Naquela calçada, se encontrava de tudo: artistas, bandidos, falsários, enrustidos, puros, profanos e assassinos. 
   Ele persistia na aventura, se encantava com um simples caminhar de uma meiga criança, se abismava com as arrastadas passadas de uma nobre senhorinha. O anjo era lindo, com o caminhar único e trajes distintos, se destacava da multidão, todos a sua volta perceberam o quão era especial aqueles pés, que experimentava pela primeira vez o chão empoeirado de um lugar lotado de falsas castidades, de julgadores sem base e de intolerantes tolerados. 
   Quanto mais ele caminhava, mais sentia vontade de continuar a jornada, pela avenida da vida, onde a cada esquina adquiria maturidade. A  medida que  os pés cansavam as asas ressurgiam. Quase no fim da avenida ele encontrou o amor, viu os olhos  encantador de um outro anjo, os dois se amaram no primeiro olhar, por entre o ar cruzou a paixão celestial. Era aquele o motivo da descida a terra? Para encontrar seu puro amor, verdadeiro e diferente?. Os anjos resolveram se amar na terra, conforme a paixão aumentava as assas se abriam mais e mais, cada vez mais estendidas, mais açoitas  e sem medo de bater voo novamente. 
   O beijo entre os anjos desencadeou uma revolta, dos moribundos ignorantes. Os profanos terrestres  os condenaram, pobres anjos não tinham visto maldade em se entregar ao amor. Entretanto pagaram sem ao menos ter dívida alguma, com  os infames intolerantes. No ato do beijo entre os querubins, os malditos demônios desumanos, arrancaram a facadas as suas assas. Sem entender nada eles clamaram pelo pai. O espancamento continuava, estavam ferindo as penas, arrancando as assas, profanando as peles, machucando as almas, ELES NÃO ACEITAVAM O AMOR! Amor entre dois anjos. A dor física veio e passou, mais aquele beijo apaixonado  foi eterno. Ficou guardado na esquina da paixão. 
   Julgaram sem saber da verdade. Acostumados com a “sociedade” não aceitaram a diferença, assassinaram anjos. Por causa de um beijo, por causa do amor em plena avenida. Pobres anjos só queriam um lugar para caminhar de mãos dadas...

 

Marcelo Luiz