Minha relação amigável com baratas

 

Tudo bem, eu gosto de insetos. Não todos. Não gosto de pernilongos e são esses os maiores freqüentadores de casa.

Gosto de formigas, borboletas, joaninhas, vaga-lumes, abelhas, besouros, libélulas, moscas douradas e uns tantos mais.

Barata? Não tenho medo (desde que ela não apareça voando), tenho sim um nojinho se ela estiver muito próxima a mim. Ai as baratas...

Tanto não tenho medo que logo o meu primeiro livro infantil publicado se chama “Catarina e as baratinhas”. Foi baseado em uma história real e tem ilustrações! Baratas, muitas delas. São simpáticas, usam roupinhas e mais lembram fadinhas das profundezas da terra. Pensando bem, nem tanto.

E por falar nelas, acabo de me lembrar de dois episódios ocorridos em um curto espaço de tempo. Certa vez, estava assistindo uma mini série muito graciosa na TV e todos em casa dormiam, era quase madrugada. Bem compenetrada nas canções senti meu cabelo incomodar meu pescoço, mexi a cabeça e passou. Quinze segundos depois o cabelo incomodou novamente, achei estranho porque não havia vento. E porque raios meu cabelo estava voando no meu ombro? Olhei de relance e lá estavam duas antenas imensas quase cutucando minha orelha, que saiam de um corpo marrom que se equilibrava em perninhas peludas. Uma barata gigante! Dei-lhe um safanão para então gritar com toda a força de meus pulmões:

- AI QUE NOJO!

Quando me dei conta que minha boca estava aberta, tratei de protegê-la com as mãos para que nenhum ser batesse as asas goela adentro e esperneei. Esperneei muito, gritando com a mão na boca. Até minha mãe surgir empunhando uma vassourona para me salvar.

Na primavera seguinte, me arrumava para ir a uma festa. Blusa frente única novinha, calça preta, salto, e cabelo esticado até a cintura pela chapinha que hoje se chama prancha. Linda, maquiada e perfumada. Fui dar a última conferida traseira e notei uma nova tatuagem na omoplata (escápula, asinha ou, seja lá como você conheça aquele ossinho das costas). Mas nunca fiz uma tatoo ali! E novamente aquelas antenas gigantescas suplicavam por atenção. Se eu tivesse gravado os segundos seguintes, estaria hoje com minha cara publicada no Guinnes Book e logo abaixo: Garota que tira a roupa toda em milésimos de segundo. Dessa vez minha salvadora apareceu com um rodo e com o cabo cutucava meus cabelos porque eu tinha certeza que a dita cuja estava lá. Foi a noite do “aiquenojo”, mesmo após água, sabão, bucha e álcool .

Mas comecei esse assunto porque ontem um desses insetos esteve no pote de ração da minha gata. Enquanto minha irmã corria desesperada, fui observar a baratinha e tive uma visão muito...hum, como poderia dizer... diferente? Sim, diferente. A barata pegou com aquelas duas mini patas, que não são patas, que tem ao lado de sua boca (sim! Barata tem boca!) o maior grão de ração e se escondeu para a ceia. Voltei depois de uma hora para espantá-la e pude observá-la destacando seu bronzeado nos azulejos amarelos, ou como diria meu pai “nos amarelolejos”. Vi suas pernas cabeludas e uma bundona que a fazia andar devagar. A deixei caminhar até sumir por uma fenda no chão. Hoje, pesquisando mais a anatomia das baratas na internet, descobri que aquilo não era uma bunda e sim ovos. É, teremos filhotinhos, mas eu não poderia matar uma barata que roubou calmamente a ração da minha gata mais caçadora. Não mesmo!

 

Thais Petranski

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