Recipiente e Receptáculo

Recipiente e Receptáculo

 

Recipiente e Receptáculo
 
   "Não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, porque suas águas não são as mesmas e nós também não somos os mesmos" - Platão
  
   Quantas pessoas conhecemos em nossas vidas? Amigos, inimigos, colegas, amores, familiares e tantos outros. Você já teve algum tipo de relacionamento com no mínimo um milhão e meio de pessoas. Você sempre foi o mesmo neste tempo? Nada em você mudou? Maneiras, trejeitos, sotaques e atitudes, tudo continuou igual?
   Platão nos ensina que somos “Recipiente e Receptáculo” de tudo a nossa volta. A cada instante a nossa energia muda, nossos pensamentos se transfiguram e nossas atitudes se dissolvem em milhares de possibilidades. Assim como nós, o rio sendo a metáfora para a vida, também muda, quanta coisa não acontece em um segundo ao redor de todo o mundo? Uma morte, um nascimento, um amor, uma decepção, encontros e desencontros, prosperidade, sorte e azar. Multiplique isto por sessenta, o equivalente a um minuto, e veja quanta coisa já aconteceu. O mundo não é o mesmo.
   Sem querer, implantamos um pedaço de nós em todos que conhecemos, seja um pedaço bom ou ruim, mas guardamos. Para algumas pessoas damos um pedaço maior e para outras só uma migalha. O engraçado é que, se juntarmos todos os que possuem um pedaço nosso, podem descrever juntos a nossa vida por completo. Alguém que passa a vida sozinho, sem querer ser amigo e nem fazer amizade, não dá o seu pedaço para ninguém, é egoísmo e burrice, pois o mundo vive de trocas e a pessoa insiste em ir contra uma lei natural.
    Somos feitos de camadas e mais camadas dos outros, a cada palavra, a cada gesto, podemos lembrar alguém em nossa vida que também fazia aquilo. Somos “Recipiente e Receptáculo”. Somos os outros e os outros somos nós. Cabe a nós resolver qual pedaço damos e qual pedaço recebemos.
   Mas nem tudo é tão belo e simples assim, pois nem sempre recebemos a reciprocidade destes pedaços. Doamos uma parte imensa de nós e só recebemos migalhas, ou o inverso. Ser reciproco e não esperar grandes partes de ninguém seria um estado de felicidade plena, mas não é fácil conseguir isto. Criamos expectativas com algumas pessoas e com outras nós julgamos.
   Eu considero o importante o tamanho da doação e não o número delas. Pois se você doar um milhão de uma vez só, é muito melhor que doar dois reais por dez mil vezes. Doe o seu melhor sempre, pois tudo que vai, volta multiplicado por três. Seja humilde e se permita guardar um pouco dos outros também, não há contraindicações.  

 

Rafael Sani