Ter certeza é algo bom? É possível ter alguma certeza na vida? Segunda de carnaval, ruas de São Paulo vazias, as pessoas viajaram e deixaram seus lares em busca de luxo. Poucos carros passam nas ruas e uma sensação de solidão bate no peito. E, para variar, me pego questionando, desta vez sobre a solidão que senti naquele momento.
É normal sentirmos sozinhos algumas vezes, mesmo com milhares de amigos em nossas vidas, amigos que dariam a vida por você e você por a deles. A tradução literal de família é “Aqueles que ficam”, seja da forma como você quiser interpretar, mas querendo ou não, nem toda vez sentimos que fazemos tão parte da família assim.
E uma antiga questão reaparece com sabor de nova: Somos sozinhos em meio a multidão ou fazemos parte da multidão? Podemos pensar que somos todos irmãos, o que verdadeiramente somos, mas isso não é claro para todos, ainda há preconceito, crimes, discriminação e rejeição. Tudo isso nos faz pensar que só podemos contar com nós mesmos.
Aquele velho ditado “Enquanto alguns constroem paredes entre os outros, eu construo pontes”. Belo ditado, mas se fomos mais a fundo na reflexão, construir estas pontes não dependem só de um, é uma relação conjunta, não adianta você construir uma ponte que termina em um muro de concreto.
Se todos possuímos paredes de concreto ao nosso redor? É só olhar em volta. Nossa casa, nosso quarto, nosso eu interior e nossa solidão revelada. Alguns especialistas em coisa nenhuma dizem que não nascemos para ficar sozinhos, mas será que nascemos para ficar em grupo? Pois fazemos parte de grupos e tribos aleatórias e acabamos destruindo o nosso mundo pouco a pouco e começamos a nos destruir também.
Não podemos dizer com certeza se devemos ou não ficar sozinhos, mas o amor pelo outro e pelo próximo deve ser uma certeza, mesmo sozinhos não podemos deixar de pensar no outro e nem no próximo.
Não é certeza, mas somos um em meio a multidão, o que nos torna parte da multidão. Portanto, somos sozinhos e juntos estamos todos sozinhos, seja atrás das paredes de concreto onde nos escondemos de noite, seja em qualquer outro lugar onde consideramos nosso abrigo, só nosso, único e exclusivo para nós, do jeito que queremos.
Entender que temos momentos de solidão é essencial, pois é puramente humano, querer entrar em grupos e criar relações também é essencial, pois faz parte da natureza humana, mas negar qualquer um dos dois, seja a solidão ou a coletividade é teoricamente desumano. Teoricamente...
Ainda há muito que aprender sobre a natureza humana, pois muito já foi esquecido, muito já foi modificado, muito é desconhecido. Talvez hajam perguntas que não hajam respostas, mas isto não é uma certeza.
Rafael Sani