Tragada mental

Tragada mental

 

Tragada mental 
 
   Cinco e trinta e cinco da manhã,  quinquagésimo sexto cigarro, usado e posto em cima da fotografia de 20 anos atrás. Lágrimas apagavam faíscas da última tragada, mais uma noite em claro, assombrado por lembranças, por desejos que foram abandonados com o passar do tempo, por promessas não cumpridas e aterrorizado pela diferença. 
   A garota a cima do peso, o menino magricela, o nerd 4 olhos, a revoltada, o gostosão, a vadia... O burro do nordeste e a nazista do sudeste... Quem é vítima da sociedade? Quem fuma o próprio cérebro, procurando a perfeição onde não tem? Estereótipos estão presentes e sempre estarão, a necessidade de separar se torna maior que a de unir, cada espécie em seu habitat natural. Linhas imaginárias  traçam o mundo, traçadas pelas cabeças redutivas. Pontes de concreto são derrubadas por quem se acha raça pura.  
   A cidade grande versos o pequeno vilarejo, bombas deformadoras contra inocentes, povo do sul contra povo do norte. A menina do sudeste tentou fumar e afogar os do nordeste, estudante e a maior ignorante. O da Europa separou, deformou, exilou, escravizou, torturou, matou de sede e de fome, por asfixia e enforcamento   aproximadamente 6 milhões, os gays assassinados na avenida, por qual motivo mesmo? Ah lembrei, motivo plausível? Nem um! a diferença, talvez?  
   Quem é igual ao seu demais levante o dedo indicador, mire em direção ao diferente, saque sua arme e atire bem na testa do maldito imperfeito. Ainda não! não, não atire! pois você também não é perfeito, não vá se suicidar, covardia é não enfrentar. Quem é a vítima? o nordestino taxado de burro? os judeus? os gordos? os nerds? os gays? os diferentes?  Mas quem é igual a quem?  
   No final da história, se filosofarmos a fundo iremos descobrir que: o nazista, o preconceituoso, a perfeita do sudeste que odeia os inferiores do nordeste, são as maiores vítimas. Porém não são vítimas de suas vítimas, sim das suas próprias mentes tragadas. Tragadas e estragadas, falta de autenticidade, exercício cerebral e de auto compreensão os transformaram em criaturas dignas de dó. Há muitos desses e sempre haverá, é como se fosse uma herança que se é passada de geração a geração, muitos intolerantes sem motivos, os fumantes estarão dispostos a tragar  "a raça não pura"...  Entretando só conseguirão exalar a fumaça de suas mentes redutivas e tostadas.
 
 Marcelo Luiz