Crônica da Afinidade

05/08/2011 23:22

 Crônica da Afinidade 

 

Afinidade é algo que realmente não se explica. Estive pensando nesse assunto esses dias e fiz uma análise crítica dos meus amigos, afetos e alguns poucos desafetos dos últimos anos. Porque temos afinidades com umas pessoas e outras não vamos muito com a cara desde o primeiro dia, desde antes de conhecer de fato?

Poderia falar de outras vidas, amizades, parentescos, enfim, que o que nos leva a gostar ou desgostar de alguém poderia estar ligado a situações de outras encarnações. Mas como nem todos acreditam de fato na reencarnação, prefiro tentar arrumar explicações plausíveis e terrenas mesmo.

Sou de São Paulo, morei em Campinas durante 7 anos e acabei voltando. Esse período foi o que mais conheci pessoas e o que mais conheci do ser humano. Antes achava que todos gostavam de mim. Depois que morei fora, percebi que nem todo mundo que demonstra gostar, realmente gosta. Mas dentre as pessoas especiais que conheci nessa cidade existiu uma grande amiga, que não convivi muitos anos, mas que em pouco tempo já era uma irmã.

Reencontrei-a esses dias. Fazia exatos dois anos que não a via. Conversávamos bem raramente graças ás invenções da tecnologia, mas só. O engraçado é que, mesmo sem contato, mesmo sem saber muito dela e ela de mim, se eu precisasse citar minhas 5 grandes amigas durante a vida, o nome dela estaria lá.

Enfim, marquei de encontrá-la já que fui a Campinas. E foi demais. Nada havia mudado. Conversamos como se tivéssemos conversado a última vez há dois dias. Batemos papo, contamos as coisas e a comunicação só em um olhar não mudou. A conexão não caiu, nem com o tempo nem com a distância, basta um olhar e uma já sabe o que a outra quer dizer.

E olha que em dois anos muito em mim mudou, eu mudei, e mudei muito. Mas a essência está lá, intacta. E demos muitas e boas risadas. Aliás, essa é uma forte característica de todos os meus amigos, os irmãos que elegi durante a vida. Pessoas engraçadas, divertidas, de bem com a vida. Gente chata é essa que só fala da vida dos outros, écat. Mas esse é só um parênteses, voltamos a falar de afinidades.

Outro dia, quando ainda passava o BBB, ouvi na televisão que estava ligada como fundo de tela do meu quarto, ou seja, sem que eu de fato a assistisse, em um dia de votação, aquela frase mais manjada da televisão brasileira “vou votar em fulano porque não temos muita afinidade”. De início ouvi aquilo tudo e pensei “banalizaram a afinidade, como alguém tem afinidade ou não em algumas semanas de convivência?’. Mas, trazendo isso para o cotidiano, mudei de ideia: Sim, ás vezes gostamos ou não em apenas algumas horas, por que em dias de convivência intensa isso não aconteceria?

E os desafetos? Atire a primeira pedra quem nunca desgostou de alguém sem ao menos conhecer a pessoa. Comigo, que sou a mais devagar para pescar personalidade, já aconteceu. Já me senti mal e culpada por não conseguir levar um papo adiante com uma esposa de amigo de namorado. E por não conseguir ser amiga de uma pessoa que queria muito ser minha amiga. Ela insistiu anos, e não ia, a amizade não fluía. Não desgosto dela e ela não é uma má pessoa, mas amiga não consegui ser. Se tivesse que chamar alguém pra tomar uma cerveja e bater papo, talvez ela estivesse na colocação 32 da lista dos que eu chamaria. Isso é não-afinidade, e não se explica.

Mas refleti sobre isso depois que uma grande amiga, gente boníssima, daquelas que é impossível não gostar, veio desabafar comigo “Estou preocupada, muitas pessoas não vão com a minha cara, gente que não sabe nem minha voz, quanto mais minha personalidade. E até quem gosta de mim hoje me diz que logo que me conheceu não ia com a minha cara. O que você acha que é isso?”. Pensei e respondi “Vai entender, ou você tem cara de antipática, ou, seguindo a linha de pensamento da reencarnação, você foi  Hittler na última vida”.

 

 

Luciana Garcia

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Afinidade com a Crônica

Jorge Barreiro | 06/08/2011

As relações humanas são mesmo algumas vezes difíceis de serem compreendidas... Por vezes procuramos motivos para gostar ou desgostar de alguém, se relacionar ou não com alguém... Enfim, buscamos afinidades... Afinidades estas que não são encontradas pelo esforço da procura, mas que acabam por se manifestar das formas mais simples e claras...
Nos pega de surpresa e, quando menos se espera, lá está aquela pessoa fazendo parte da nossa vida, que a gente nem sabe ao certo como ela foi parar lá... Gosto disso!
Excelente sua crônica de estréia! Bonito, leve, claro, divertido, completo, preciso! Parabéns!!!
Grande beijo!

Afins

Ana Regina Alen | 06/08/2011

A afinidade é algo incontrolável mesmo,assim eu penso.Também pudera no campo dos sentimentos quais são os que conseguimos dominar?O que posso te dizer Lu é que ao longo dos meus 32 anos embora incontrolável eu me condicionei de alguma forma a olhar novamente para pessoas que nunca haviam feito nada de errado pra mim e decobrir nelas algo bom,uma afinidade talvez...posso te dizer que tenho entre aqueles que hoje eu chamo de irmãos uns 3 que eu jamais olhei com bons olhos de primeiro,foi na segunda ou terceira tentativa que os descobri.A afinidade pode ser instantânea em alguns casos mas descobrir o que as pessoas podem fazer em nossa vida e nós na dela vem com o tempo...
Beijo grande de alguém que se afiniza com vc sem se importar se é recíproco...rs

Re:Afins

Luciana Garcia | 07/08/2011

Clarooooo que é reciíproco né Aninha!!!!
Adoro vc!!!!

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