Exagerado, jogado aos teus pés, eu sou mesmo exagerado

04/05/2012 17:11

 

Exagerado, jogado aos teus pés, eu sou mesmo exagerado

- Amiga, desculpa o atraso. É que eu estava saindo de casa e tinha um cara super mal encarado dentro de um caminhão, que começou a falar coisas fortes e baixas pra mim. Por alguns minutos já me vi assaltada, estuprada, morta e jogada ao rio ou num canavial, como tantas moças por aí, depois do meu corpo passar dias num porta malas esquartejado . Sim, porque isso nao acontece só com o vizinho, né?! Aí, pra nao ter esse fim, sem glamour,  achei prudente não abrir o portão enquanto ele não saísse de lá.
-Amiga, era só falar que você recebeu uma cantada de um caminhoneiro!
- Ah, é pra dar emoção!
É verdade, acho a vida um grande drama. Meu apelido já foi até Maria do Bairro de tanto que gosto de um exagero. Exagero esse de uma novela mexicana. Mas taí, acho que essa é a graça. As histórias não existem sem esse toque de dramaticidade. Sem drama há simples fatos e não história.
Você já pensou que qualquer acontecimento bobo pode se tornar uma grande história se você souber contar? Não há quem não resista a uma história bem contada. Sabendo falar, qualquer banalidade prende a atenção. Você não precisa mentir, só exagerar.
Por isso eu acredito que grandes livros foram criados por escritoras na TPM. Claro, porque nada mais dramalhão do que uma TPM daquelas. Olha só, agora, já me vem à mente uma mulher chorando, emocionada com um filme chinês. Mas não um choro normal, até porque um choro de TPM nunca é normal. É um choro sofrido, com soluços altos, até gemidos estão valendo. É o choro da mulher maquiada.  Um rio negro escorrendo pelo rosto, resultante da mistura de lágrimas com rímel. Aliás, acredito que nunca ninguém inventou um rímel à prova dágua decente por concordar que essa cena realmente é poética. Os olhos borrados lembrando um panda tem seu charme, sua arte.É o retrato falado da derrota feminina. Derrota poética. É um rosto desfigurado, mostrando um sofrimento que talvez nem exista.
Fui criada no drama e achei bom. Lembro-me (até porque ela não me deixa esquecer) de quando minha mãe ia ao shopping e, por um milagre da Nossa Senhora Protetora das Consumidoras Compulsivas, ela não comprava nada.
- Andei  horas igual um camelo e não comprei um alfinete para mim!!! – dizia com um bico enorme e cara de cachorrinho com sarna.
Agora eu pergunto, caro leitor: o que levaria uma pessoa a querer comprar um alfinete? Pior, e se satisfazer com a compra! Drama, puro drama! O drama é a metáfora da vida. E não é legal? Muito mais do que se ela falasse um simples “oi,  fui ao shopping e não comprei nada!”.
Por falar nisso...está tarde e eu preciso dormir, afinal, acordarei amanhã com olheiras horríveis que irão até a altura da boca e cara de gente morta de tão pálida...exageros à parte...
 
Luciana Garcia