Reflexões de um último capítulo

20/10/2012 08:55

 

Reflexões de um último capítulo
 
   E acaba Av. Brasil. Não sei se agradeço aos céus ou se lamento profundamente. O que sei é que numa análise geral essa novela foi realmente ruim. Tinha tudo pra ser boa, se não tivesse passado do tempo. Tudo na vida tem um “time”, e em Av. Brasil ele foi perdido feio. Imagina ler um jornal inteiro no dia seguinte. Av. Brasil foi mais ou menos isso. 
   Mas, por outro lado, ela foi viciante, foi o assunto em todas as emissoras durante meses. A cada capítulo um congelamento, uma face branca ao final indicava que um novo mistério começava. E talvez o erro foi também o acerto. Quando você pensava que sabia tudo, via que tudo mudava e recomeçava. Cansativo? Muito, mas viciante...muito também.
   Entretanto, foram muitos erros que banalizaram as coisas e que me fazem pensar “por que eu acompanhei essa pasmaceira?”.  A começar das maledetas fotos que viraram verdadeiras chacotas nas redes sociais. Foram capítulos e capítulos numa agonia tremenda. Esconderam fotos em banco! Quem, hoje em dia, guarda fotos em banco? Um simples e-mail resolveria o problema e seria muito mais seguro.  E quem hoje em dia não tem e-mail? ou um pen drive? Seria mais real um hacker conseguir a senha da Nina e deletar as fotos. Teria novela assim também, teria mistério e ação. 
   Fora que ninguém trabalha né? As pessoas vivem de vingança, comem apenas com o fato de procurar os culpados de crimes cheios de peripércias. Crianças de lixão viram o Cauã Reymond. Essa é a mais surreal. Aliás, você já teve um amor de infância? um namoradinho que seu pai sempre falava nas festas juninas  “junta com o fulaninho pra tirar foto”.. ..Claro que sim, não era só o meu pai meio malinha que gostava de me deixar sem jeito. Agora eu pergunto, seu namoradinho ficou bonito? Claro que não....esses namoradinhos de infância geralmente viram monstrinhos e a gente, quando encontra no mercado 20 anos depois, se pergunta “Caralho, como eu consegui?”. A novela é tão surreal, que o namoradinho de infância virou o Cauã Reymond. Só em novela mesmo. O pior é:  Ela foi roubada e perdeu 1 milhão e nem ficou preocupada! Continuou pensando em vingança! Quem tem 1 milhão, sem trabalhar, e o Cauã Reimond todinho pra você e ainda apaixonado e tem tempo pra pensar em vingança? 
   E como as pessoas são bonitas no lixão. Bem cuidadas, coradas. Umas crianças super saudáveis. Dá até vontade de passar uma temporada na casa da mãe Lucinda. Aliás, com a mãe mega super protetora que tenho, eu tive anemia na infância. Pena que a mãe Lucinda não existia. Uma temporada lá e eu estava curada. Dale mingau de aveia no lixão. Sim, porque só com mingau de aveia as crianças ficam tão gordinhas. E parece que elas usam sabonete Natura. Pele lisinha, tipo pêssego mesmo. Bochechas rosadas que dão vontade de apertar.
   Aí tiveram os maus-bons exemplos. O Cadinho com as 3 mulheres me gerou certa dúvida. Por um lado fiquei indignada. E agora, os homens vão achar normal ter um monte de mulheres? A televisão dita a moda. A Globo diz o que é certo ou errado. Principalmente para as classes mais baixas. Mas, por outro lado, mostrou também, que se os danadinhos querem ter mais de uma mulher, terão que sustentar! Mas ainda acho que o exemplo não é legal. Brasileiro é muito oba oba. Já surgiram matérias especiais falando de vários caras que levam uma vida de bigamia. Patético. Não somos muçulmanos.
   A trilha sonora da novela também não foi das melhores. Dos tchu e tcha da vida até a maldita música enjoativa da Rita Lee...”Deus me proteja...”. Por favor, me proteja dessa música. E de quase todas as outras da novela. Sem comentar o Kuduro da abertura que não merece comentários. Isso me preocupa quando a novela for exportada. Custa exportar música boa também?
   Mas entre xaropadas, histórias mal contadas, coisas surreais, acho que tanto sucesso se deve ao elenco. Foi um show de interpretação dos mais antigos como Adriana Esteves, sempre ótima, Eliane Giardini e Marcos Caruso até mais novos, revelações, como Juliano Cazarré, o Adauto, que muitas vezes não entendo como ele teve tempo para cultivar tantos músculos e ao mesmo tempo ser um p@#$%$ ator e ter sensibilidade para poesia (inteligentíssimas por sinal). 
   Av. Brasil fez sucesso também por sair da fórmulinha. Por mais que fosse fora da realidade, ela era diferente, não era previsível. Tá, ok, subestimou um pouco nossa inteligência, mas fugiu do padrão. Pensa, novelas do Silvio Abreu sempre tem uma grande empresa, pessoas que brigam pelo poder dentro dela e maridos ou esposas que querem passar a perna e ficar com a herança (Belíssima,A próxima vítima). Novelas de Manuel Carlos falam da vida, dramas familiares, romances que jorram mel da tela, écat (Páginas da Vida e tudo mais o que tem vida como título). E o que nos espera na segunda-feira: Glória Peres.  A gênia! Autora essa que faz histórias absurdas, sempre em outro país, com uma polêmica ou problema social, mas com viagens absurdas que me fazem pensar que ela realmente fuma um antes de escrever. Pessoas que vão do Brasil ao Marrocos como se fosse ponte aérea Rio-São Paulo. Detalhe, você já conheceu alguém que foi pro Marrocos?  E assim para a Índia, e EUA. Em América era super legal que alguns engoliam drogas pra passar na fronteira e outros simplesmente compravam uma passagem de um voo que saía de hora em hora do Rio pra Miami. Tipo ônibus de São Paulo pra Campinas. Viação Cometa, vulgo Cometão. De 15 em 15 na Estação Tietê ou na Marginal. Pagando você sobe em qualquer lugar.
   Enfim, novela é novela e, por mas que achemos besta, iremos assistir. É nosso momento planta. Não pensar em nada, esquecer os problemas e se preocupar com problemas fictícios de pessoas que também não existem. E quem diz que não assiste, duvido. Novela, na vida conturbada que levamos, pode ser um mal necessário.
 
Luciana Garcia