Nota da escritora: esse é um texto original e a reprodução dele não deve ser feita sem a minha autorização. Por favor, respeite meu trabalho.
Carta de amor
Olá, Michael... Desculpe a maneira como venho falar contigo; não o conheço pessoalmente e, portanto, não seria possível, 
ainda que eu quisesse, contatá-lo e dizer-lhe, face a face, as palavras que vim lhe expressar nesse momento. Creio que, portanto, um e-mail seria o melhor modo de lhe revelar meus pensamentos sem invadir sua privacidade e sem expor-me demasiadamente ao ridículo - afinal, declarações de sentimento costumam parecer ridículas quando são acompanhadas pela rejeição que, infelizmente, acredito que acontecerá. Sendo assim, peço apenas que leia esta carta virtual para saber como me sinto e para compreender o que se passa em minha mente.
Sou sua fã. Para minha tristeza, entretanto, não posso afirmar que o sou há muito tempo. Creio que há aproximadamente um mês descobri sua existência, e há aproximadamente um mês que seu rosto não me sai do pensamento. Foi algo que aconteceu muito rápido e, devo admitir, de maneira demasiado intensa para que eu pudesse impedir... A verdade é que o vi ao vivo duas vezes apenas: ambas em sua apresentação no espetáculo de Aladdin, o Musical. Você fazia um personagem carismático e envolvente, e isso naturalmente atraiu minha atenção a você. Contudo, quando vi seu rosto pela primeira vez, minha reação não foi sequer parecida com atração ou desejo; de fato, quando reparei nos detalhes de sua face, senti, confesso, apenas uma estranha curiosidade: você não era apenas bonito... possuía um brilho no olhar e um sorriso tão hipnotizantes que perdi a maior parte do show encarando-o em cima do palco. Digo que o que senti foi curiosidade porque você nunca fez o meu estilo, na verdade; sempre me interessei por físicos diferentes e profissões diferentes, mas você ali, sob a luz dos holofotes, por algum motivo que não me era claro, parecia ser a peça mais importante do cenário e o homem mais interessante no recinto.
Ao final da apresentação, senti-me aturdida: eu realmente havia me impressionado com você e havia uma ânsia em meu íntimo de conhecer, ao menos, o seu nome; eu precisava saber quem você era. Em minha busca, acabei descobrindo sua identidade e, junto a isso, alguns detalhes sobre sua vida que me deixaram um tanto desconcertada: você é uma pessoa relativamente famosa, um homem repleto de talentos, um artista, um acrobata, um rapaz cheio de energia e realizações; e tudo isso com apenas 22 anos de vida. Meu interesse aumentou incrivelmente: você era uma pessoa digna de admiração e, depois de minhas descobertas, instantaneamente passei a te enxergar com olhos ainda mais intrigados. Foi depois disso que o vi novamente, em mais uma apresentação do já mencionado musical - que fiz questão de assistir novamente. Dessa vez, devo admitir, todos os outros artistas e os cenários tornaram-se meramente figurantes, pois eu estava ali por você e era apenas o seu sorriso que eu vislumbrava sobre a imensidão do palco. Sua visão era algo tão envolvente que, sentada ali, na cadeira do teatro, pensei, em alguns momentos, não estar olhando para algo real: você brilhava tanto que sequer parecia de verdade. Desde esse dia, não o tirei mais de meus pensamentos. Não demorei a perceber que você, sem saber, estava fazendo cada vez mais parte de meu dia-a-dia. Com o tempo, fui descobrindo alguns detalhes sobre sua pessoa, como algumas características de sua personalidade, algumas minúcias no seu modo de ser, gostos pessoais, hobbys, prazeres e afins. E tudo o que me era revelado me mostrava um motivo a mais para me admirar com você, me interessar profundamente por seu eu, me apaixonar rapidamente pelo que você faz. Não deve me perguntar o porquê, no entanto. Embora eu tenha expressado inúmeros motivos para admirá-lo, não há sequer um que explique coerentemente o meu desejo de te conhecer tão intensamente; mas, se me permite dizer, te adoro... O motivo para eu ter me encantado não é o fato de eu te conhecer bem; muito pelo contrário, é, na verdade, a ânsia de poder fazê-lo. Quero saber seus segredos, quero desvendar seus mistérios, quero conhecer as angústias e felicidades que nascem e morrem em seu coração; quero acrescentar em minha rotina todos aqueles seus detalhes que me fogem, pois o que conheço de ti nada significa perto da imensidão de coisas que pode me mostrar. Sei, entretanto, que nada disso me será ofertado: sou uma completa desconhecida, alguém que, aos olhos de uma pessoa comum, seria rotulada de tola e inocente; mas quero que entenda que nada disso é tolice, e muito menos inocência.
Não tenho a menor pretensão de acreditar que, algum dia, terei a oportunidade de vir a conhecê-lo pessoalmente e encarar seus olhos, enquanto você me sorri docemente; porém o que sinto é verdadeiro - louco, burro e angustiante, mas verdadeiro. Para minha alegria, contudo, creio que esse meu sentimento desvairado por ti pode, ao menos, trazer-me algo de bom: sua existência deu-me motivos e inspiração para retornar ao caminho ao qual pertenço e me desviei com o passar dos anos, pois sinto novamente a necessidade de fazer parte das artes humanas, sinto desejo de utilizar abundantemente as palavras, de usar os movimentos de meu corpo para expressar os turbilhões que se agitam nesse meu coração de ser humano. Você, seu talento, seu carisma, seu sorriso, foram faróis para guiar meu destino e, por isso, lhe sou grata. Espero que com tudo isso tenha compreendido, enfim, a grande influência que seu trabalho pode ter sobre as pessoas: você envolveu meu coração e, em seguida, minha mente, pois tudo o que faço, faço pensando em você. Peço apenas que não me julgue erroneamente... não sou nenhuma demente ou insensata, não irei persegui-lo pelas ruas ou jogar-me ao seus pés, humilhando-me e implorando por sua atenção; sou apenas uma garota que encontrou o homem ideal, sem ter o direito de tentar conquistá-lo por não ter tido, sequer, a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. O mais próximo que cheguei de conhecê-lo foi observando-o no palco, onde os artistas mais parecem visões do que pessoas de verdade, tão distantes estão do mundo simplório das almas que os assistem. E repito: te adoro... ainda que você nem saiba quem sou.
Agora que já esvaziei meu coração e derramei meus sentimentos nessa mensagem, peço que perdoe-me; se o assustei, saiba que essa não era minha intenção. Queria apenas acabar com essa angústia de sentir e não ser correspondida; embora você ainda não corresponda, ao menos agora sabe que alguém distante tem grande adoração por você. Se sentir vontade de me responder, sentirei imensa felicidade; se não, agradeço o tempo dedicado a ler estas simples palavras...
Beijos...
