Em paz com o sabático

Em paz com o sabático

 

Esta semana li algo bem intrigante sobre o sabático.  Sabático vem de “shabat” que é o sábado, ou dia de descanso para os judeus. Esse termo é usado para definir períodos de afastamento de uma empresa. É um período para parar e refletir, pensar, descansar, curtir, olhar as coisas sob outra perspectiva e dimensão.  Avaliar o que sou e o que eu posso ser. Criar uma nova condição para o equilíbrio mental, físico e espiritual. Coragem para perceber o novo.

Eu descobri que isso existe há apenas quatro dias, justamente nos classificados de emprego da Folha de SP.

O texto começa da seguinte maneira:

“Se ainda não aconteceu com você, talvez seja apenas uma questão de tempo. Porque em algum momento da carreira o dilema se impõe à maioria: já é hora de tirar um período sabático?”.

Na sequencia, falam com a maior naturalidade que esse período deve ser usado para agregar conhecimento e para aumentar a empregabilidade, e esse tempo varia de um mês a alguns anos. A questão é planejar e fazer um bom pé de meia para sobreviver nesse meio tempo. Super simples assim.

Ainda há exemplos e dicas, tais como, negociar com o chefe se pode ser uma licença não remunerada ou avaliar se a demissão é viável. Sugestões: aprender um idioma durante o sabático, estudar, escrever um livro, aprender algo diferente, fazer um retiro espiritual. E finalizam com:

 “O MERCADO VÊ DE FORMA POSITIVA OS PROFISSIONAIS QUE TIRAM UM SABÁTICO PLANEJADO E COM FOCO. As empresas querem pessoas com iniciativa, que gostam de aventura e de assumir riscos. O MERCADO TAMBÉM, É RECEPTIVO A PROFISSIONAIS QUE LARGAM TUDO EM BUSCA DE AUTOCONHECIMENTO”.

 

Agora eu pergunto: Em que mundo isso acontece?

 

Vivemos numa época em que um funcionário que tira férias por 30 dias, no fundo não é importante pra empresa, porque se ele pode se ausentar por “tanto tempo” é bem substituível por alguém que “realmente vista a camisa de empresa”.

Como trazer o texto do tal sabático para a realidade?

 

Esse tema me chamou muito a atenção porque passei por isso. Tive pequenas licenças não remuneradas para evoluir e buscar realizações. Acabei abandonando tudo em busca desse autoconhecimento (que deveria conviver diariamente conosco).

 O meu saldo do sabático é:

- Pós graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inovação;

- Espanhol fluente;

- Três livros escritos, dois publicados;

- Algumas viagens;

- Cursos de desenho e ilustração;

- Vontade de estudar mais para mudar de área;

- Desemprego.

 

Claro que só porque para mim isso não funcionou, não significa que é uma furada. Acredito que seja essencial na carreira das pessoas, mas daí até o mercado valorizar isso, já é demais.

Mesmo na Era do Conhecimento, as empresas visam lucro, e precisam de funcionários dedicados. Como fingir que isso não é importante?

Acredito que é importantíssimo para uma empresa incentivar alguns pontos na carreira de seus funcionários, para que estes realmente vistam a camisa, mas, e se todos os funcionários de uma grande empresa decidissem tirar um sabático? Por ano, quantos funcionários se ausentariam de suas tarefas?

 

A realidade é que pobre se tira férias fica endividado e, se inventa um sabático é vagabundo. Quando tem emprego é pra pagar as contas e não pra um fundo de reserva. A vida não permite isso. Assim como estudar em período integral.

Sou apenas mais um exemplo de como a vida funciona fora do jornal. Tenho sonhos, assim como todos, mas daí a realizar tudo, existe um abismo chamado realidade.

 

(E não custa nada perguntar né? Se alguém conhecer alguma empresa que valorize e ponha em prática esse tal de sabático, me avisem, por favor. Vai que uma dessas empresas se interessem por uma pobre sabática por imposição, sonhadora e realizadora por opção.)

 

Thais Petranski