O Escultor

O Escultor

 

O Escultor 

 

   Quando nascemos, criamos um mundo dentro de nós feito per lembranças e recordações. Esculpimos um mundo inteiro feito de estátuas, algumas são homenagens, outras são avisos, outras são pessoas do passado. Nosso mundo interior fica cheio destas recordações. Algumas, com o tempo, são destruídas e caem no esquecimento, viram pó. Mas também há as estátuas que não gostaríamos de tê-las esculpido, que ficam ocupando espaço.

   Você é uma destas estátuas que eu não quero mais, você é uma lembrança que eu não quero mais. Não tenho mais vontade de pensar em você ou de rever a sua face, quero apenas que você suma, para todo o sempre. O tempo demora para te transformar em pó, então eu tive que agir por mim mesmo, chamei aquelas que guardam os portões da mente, as Gargulas. São os demônios que impedem a entrada de outros demônios.

As pedi para que tomassem conta de você. Uma cortou a cabeça fora, a outra dilacerou seu estômago e a terceira arrancou seus braços e pernas, não foi demorado ver você ser transformado em pedaços e depois em pó, até que foi rápido demais, nem deu tanto gostinho assim. Eu pensei que estava tudo feito, que finalmente você tinha saido da minha mente e do meu coração, pois você ocupava um espaço que não merecia.

Mas você é VOCÊ! Vive me complicando as coisas. O mar está em meu interior, pois ele me traz muitas recordações, mas ele não é uma estátua, não há como fazer da natureza uma estátua, uma lembrança, não há como esquecer o Sol ou a Lua, o Mar ou as Florestas. Eles estão sempre presentes. E toda a vez que eu olhava o mar, a sua estátua se reconstruía, logo eu mandava novamente minhas belas Gargulas te dilacerarem. Isto aconteceu repetidamente, várias vezes. Então eu percebi que deveria destruir o mar para conseguir te destruir. Mas como? Seria impossível realizar tal ato. Logo, eu pedi para que elas o jogassem no mais profundo oceano do esquecimento, no mar mais negro e longe possível. 

Se toda vez que eu olho para o mar, eu lembro de você, prefiro nunca mais olhar para ele então. Dou minhas costas para o mar e nunca mais o visitarei. Tudo por sua causa. Que estrago você fez em meu mundo! Mas agora tem um espaço enorme para ser preenchido, o que ocupará um tempo de vida para preenchê-lo, nunca mais terei tempo ou vontade de olhar para o mar. 

O que é melhor, eu não serei transformado em uma estátua, em uma simples lembrança, enquanto eu viver e for sempre presente, você será cada vez mais esquecido no mar onde te deixei. 

 

Rafael Sani

 

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