Dinheiro é bom e não existe quem não goste. Desde criança eu fazia massagem nos pés da minha mãe para ganhar alguns trocados, cobrava 1 real o minuto, era um pouco careiro, confesso, mas minha mãe sempre dizia que valia a pena.
Aos 10 anos, fiz uma lista de atividades “cobráveis”:
- Passear com o cachorro: 5 reais
- Arrumar todas as camas da casa: 2 reais
- Molhar as plantas: 1 real
Assim ia uma lista enorme... Algumas vezes conseguia juntar até 20 reais no mês e já me sentia a criança mais rica do mundo!
Com 11 anos entrei na 5ª série e a minha tia Inês, a rica da família, me propôs um acordo: Se eu tirasse todas as notas acima de C, ganharia 50 reais pelo esforço. Aquilo sim era oferta e fechei contrato sem pensar suas vezes.
Impressionante como comecei a fazer as lições de casa e a prestar atenção nas aulas, claro que não era da minha natureza, mas 50 reais estavam em jogo e visualizar aquela nota bege e com a imagem de uma onça-pintada servia de muito estímulo.
De fato que foi um semestre difícil, com direito a cadernos jogados pelo quarto, camas sem arrumar e, provavelmente, o Billy, que era o Cocker Spanel dourado da família, sentiu muita falta de mijar em todas as árvores da rua. Mas eu tinha conseguido um boletim exemplar e até fiquei entre os melhores da classe.
Só faltava mostra-lo para a tia rica para ficar rico! Dali uma semana ela veio nos visitar e também para ver o tal boletim exemplar. Entreguei o pedaço de papel e ela o olhou fixamente e depois fez um olhar de contente, então abriu a bolsa, que deveria ser de uma dessas marcar que só rico conhece, e retirou a carteira estufada, cheia de cheques, cartões e notas.
Tão logo retirou a nota de 50 reais e me entregou. Ah... eu fiquei maravilhado! Minha Nossa Senhora, que nota linda! Agradeci e subi para o meu quarto, para apreciá-la melhor e com calma.
Com certeza foi a noite em que me senti mais rico da minha infância, dormi como um príncipe, pois me sentia como tal. Mas naquela manhã, ao acordar e perceber que o Billy estava no de pé no sofá e comendo algo em cima da mesa me fez levantar rapidinho de preocupação.
Filho da mãe! Aquele vira-lata com Pedigree estava com metade da minha nota na boca e mastigando! Todo o meu esforço, a minha riqueza, tudo ia acabar virando uma grande merda, literalmente!
Caí de joelhos no chão, juro! E o cara-de-pau ainda veio querendo carinho! Dá para imaginar? Então uma voz sábia e bem profunda disse em minha mente:
- Perdoai, ele não sabe o que faz!
Fazer o que né? Perdoei e ergui a cabeça, afinal tinham mais três semestres para conseguir novamente os cinquenta reais, só me restavam agora muitos minutos fazendo massagem nos pés da minha mãe...