Van Gogh

 

   Lilian abre uma porta revestida de eras roxas e então entra no local mais estranho de sua vida. Uma sala que possua simetria perfeita, tudo que tinha no lado direito tinha também do lado esquerdo. A porta se fechou e ela se viu no meio da sala, reparou nos quatro balcões e também nas prateleiras que percorriam o cômodo inteiro, mas o que mais lhe chamou a atenção foi que uma lado da sala era pintado de azul escuro e o outro lado de rosa escuro, os moveis também acompanhavam essa dinâmica e no meio da sala havia uma pequena transição entre as duas cores. No teto uma vidraça enorme que deixava pouca luz do sol entrar.
   Lilian, admirada, não sabia o que fazer, então escutou algo, olhou rapidamente em todas as direções e não viu nada além dos moveis que quase se confundiam com as paredes, ouviu outra vez um barulho estranho e viu também uma sombra passando, mas o que poderia ser?
   Uma pena caiu lentamente diante de seus olhos e foi até o chão, ela olhou e estranhou a pena de cor azul escuro, como um dos lados da sala, ouviu novamente o barulho, era um bater de asas, olhou para cima e viu uma bela ave parecendo flutuar no ar, ela foi até o canto da sala, onde tudo era rosa escuro e ali pousou. Lilian admirada suspirou calmamente, pegou a pena do chão e começou a caminhar lentamente em direção a ave.
   A cada passo, ela sentia um alivio, parecia que alguma coisa que vinha de dentro estava se despertando, um sorriso surgiu em sua face, uma leveza foi tomando conta de seu corpo, foi sentindo uma felicidade surgir e tudo parecia ser mais belo que antes, tudo estava bem, ela passava a mão em seu corpo se sentindo e percebendo o quão era linda.
   Parou, estava não muito perto da ave, está que tinha as penas das asas e da calda azuis escuro e as penas do corpo em rosa escuro, ela então voou imediatamente para o outro lado da sala, onde tudo era azul escuro.
   Lilian no auge de sua alegria, não hesitou em caminhar com passos longos, quase que dançantes para o outro lado da sala, a cada centímetro que se distanciava do final da sala, seu corpo foi ganhando peso rapidamente, o sorriso foi desaparecendo de sua face e chegou ao meio da sala, estava neutra, normal, a Lilian de sempre.
   Estranhou claro, tinha acabado por passar por ótimas sensações e tudo se foi tão de repente, não ligou muito, começou a caminhar em direção a ave, na parte azulada da sala, a cada passo tudo mudava dentro e fora dela, seu corpo ganhava peso e olhos melancólicos começaram a surgir, logo uma lagrima caiu e depois outra, ela parou, não conseguia mais caminhar, chorava de todas as mágoas, não queria continuar, se sentia com nojo de si mesma, começou a regressar para o meio da sala e suas lagrimas pararam de cair, Lilian voltou ao normal.
   Olhou a ave, esta estava olhando Lilian fixamente, não se mexia, parecia conhecê-la de algum lugar. Olhou a pena em sua mão, e decidiu tentar mais uma vez, já tinha percebido a relação que tinha com a sala, um lado a deixava feliz e o outro triste, mas cismou que tinha que chegar até a ave de qualquer jeito.
   Armou a postura, ergueu a cabeça e começou a andar lentamente, a cada passo, uma dor diferente, uma dor mais cruel tomava conta de si, chorava como criança e aos poucos chegava mais perto do chão, chegou a andar de joelhos e quando estava quase no final da sala, deitou no chão, não tinha mais forças para se levantar, apenas não conseguia continuar.
   A ave a olhou fixamente, abriu suas belas asas e voltou para o outro lado da sala, onde tudo era rosa escuro. Lilian no chão, chorando aos prantos e sem forças, não conseguia nem se mover, nem queria mais ir para o outro lado da sala, só queria chorar e chorar. Foi então que percebeu que o chão estava cheio de folhinhas secas, algumas em azul e outras em rosa, misturadas, ela juntou as que eram rosas e as colocou perto do coração.
   Aos poucos ela conseguia se mover, primeiro ficou de joelhos e continuou até ficar ereta e chegar ao meio da sala. Estava neutra, como se nada tivesse acontecido, seus olhos pareciam nunca terem lacrimejado. Ainda com a pena azul nas mãos, a olhou e deixou em cima de um dos balcões da parte rosa, nisso a ave veio até o meio da sala, pousou  perto de sua pena.
   Lilian acordou do sonho, se lembrou de cada segundo do que tinha sonhado. Levantou-se e foi tomar conta de seu dia. No almoço, resolveu contar o sonho para a mãe:
   - Mãe, hoje tive um sonho tão estranho, entrei numa sala esquisita, mãe, ela era toda pintada de azul escuro de um lado e de rosa escuro de outro, tinha uma ave linda, com as mesmas cores e quando eu caminhava para o lado rosa, eu me sentia bem, feliz e alegre, quando ia para o lado azul, eu chorava, nossa, era horrível. 
   - Filha, que interessante, sabia que Van Gogh pintava as coisas de rosa quando estava feliz e de azul quando estava triste?
 

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Comentários:

Van Gogh

Pâmela Carvalho | 16/02/2011

Que coisa não? Agora intendi o porquê de Van Gogh.

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