Os Olhos de Berílio

 

 

   Parece ontem ao me lembrar do dia em que fui expulsa dos mares. Nem sei mais há quanto tempo estou a olhar para Berílio. Esta imagem bela, este reflexo distante e ao mesmo tempo próximo. Não posso cheirar, nem ouvir, muito menos tocar, mas amo só de olhar. Estes magníficos olhos que me prendem desde sempre.
   Lembro-me de como chorava por ser proibida de entrar no mar novamente e que as lágrimas só cessaram quando olhei meu reflexo nas águas costeiras de cima de uma pedra e não me vi, não era o meu reflexo que aparecia, era Berílio. De lágrimas de tristeza, meus olhos transformaram-se em ternura e paixão.
   Agora, eu apenas passos todos meus dias mirando para as águas, admirando seus olhos perolados e sua face tão bela. Devo confessar que não gosto de quando chove, pois sua figura se distorce e às vezes, mal consigo ver sua forma. Me acostumei tanto a olhar para ti, que já não sei mais parar.
   Algumas vezes eu desejo que você me abraçasse no reflexo, que me beijasse, que passasse sua mão em meu rosto, mas nada disto jamáis aconteceria, pois, apesar de meu amor, és só uma imagem.
   Nas noites de lua cheia, seus olhos se fundem com a cor da lua e ficam prateados. São estes os olhos mais belos de toda a fantasia. Ó Berílio, como queria que fosses um ser, como queria que fosses real, como queria ver meu reflexo não sendo você e sim junto a você.
   Fui expulsa dos mares e agora o que eu mais desejo está preso em sua superfície, tão próximo de mim, e ao mesmo tempo, inalcançável. Netuno foi claro ao dizer que eu morreria ao tocar em qualquer parte do oceano novamente.
   Moneta se recusou a realizar meu desejo. Só não sei por quê. Há algo de errado em desejar meu reflexo? Não desejo a mim mesma, desejo Berílio, este homem dos olhos perolados, cabelos da cor do sol, uma face que transmite ternura e aquieta meu coração.
   Algumas vezes eu o imagino dizendo meu nome, com uma voz suave que só o mar pode revelar. Algumas noites, juro que ele sussurra em meus ouvidos enquanto durmo desconfortável nesta pedra: Cafira...
   Só isto e eu esqueço toda a dor, toda a tristeza, todo o rancor e apenas durmo, vou aos sonhos mais profundos para encontrar com meu amor e lá, senti-lo como nunca fiz e sempre desejei.
   Medo de um dia acordar e não te ver nunca mais, por isto, na próxima lua cheia, farei meu ultimo pedido e me jogarei em seus braços, seja morta ou viva. Berílio, viverei e morrerei por você. Sejam segundos que durem uma felicidade eterna ou a morte rápida de uma vida platônica.


“A cristalina cor perolada de seus olhos era tão delicada quanto o seu reflexo nas águas costeiras.”


Cafira

 

 

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