Mão de Leite

 

 

Uma jovem de aproximadamente vinte anos corre em meios às árvores de um bosque com o seu bebê recém-nascido nos braços, a criança chora e se esperneia dentro do tecido branco em que está enrolada. Tentando acalmar a criança faminta, ela dá de mamar, mas o peito murcho e quase sem leite não oferece o suficiente.
   A mãe tem pena e raiva da criança, não sabe o que fazer com o seu bebê, sente que ele é problema para o seu futuro, não era aquilo o que ela queria, com certeza o seu filho a impediria de realizar todos os seus desejos, mas ao mesmo tempo, o bom senso a dizia para protegê-la do mundo e cuidar dela.
   Preocupada com a saúde de seu filho, pois não tinha mais leite para amamenta-lo, sentia-se incapaz de cuidar dele e foi tal situação que a guiava pelo bosque. Seguindo o barulho das ondas do mar batendo nos penhascos, chegando cada vez mais próximo de sua procura. Ainda dentro do bosque, viu algo que parecia brilhar mais a frente, seguiu em sua direção e tentava acalmar o filho dizendo:
   - Estamos quase chegando, só mais um pouco.
   Uma mão gigante de mármore se unia ao penhasco, em baixo o mar agitado, chegando lá, ajoelhou-se, colocou seu filho no chão, abaixou a cabeça e começou a chorar. Ao contrário do que ela esperava, nenhuma gota de leite havia para ser dada ao seu filho, a fonte estava seca.
   O que fazer agora? Como fazer seu filho parar de chorar de fome? Somente uma resposta vinha em sua mente, uma solução simples e rápida, matar, acabaria com o choro e a libertaria de tantas e tantas outras preocupações. Com a mão tremula, retirou o punhal de sua cintura e o ergueu, olhando em seus pequenos olhinhos castanhos, lembrou-se de quando deu a vida a seu filho e soltou o punhal.
   Sem mais o que pensar e fazer, deitou-se na grama ao lado da criança e olhou o céu azul, sem nenhuma nuvem nele, depois olhou para a mão que brilhava com a luz do sol no horizonte, logo seria de noite e era muito perigoso voltar pelo bosque na escuridão, então resolveu passar a noite ali mesmo, perto da fonte.
   Mesmo sem leite nos seios, ela colocava a criança para beber algumas poucas gotas, mas a mãe também sentia fome. A noite chegou e a lua apareceu, o vento gelado atingia fortemente, então ela colocou a criança dentro da fonte, a enrolou em seu pano branco e depois tirou sua blusa para cobrir e protegê-la do frio. Tremendo, deitou próxima ao filho e jurou protege-lo até o fim de sua vida.
   A noite se passou lenta e perturbadora, ao amanhecer, com o céu ficando esverdeado, a jovem mãe desperta com algo que a incomoda, ao olhar ao seu redor, vê que a fonte está se enchendo de leite lentamente, ela acorda o filho e o faz tomar. Ela começa a chorar de alegria, seu filho não mais morreria de fome e nem ela também.
   A fonte fica cada vez mais abundante e o leite chega a vazar entre os dedos, formando uma cachoeira que desaba por mais de dez metros e depois desaparece com um vento vindo do sul. A mãe e o filho se empanturram e enchem a barriga.
   A mãe coloca a mão em seus seios e os percebem cheios e fartos. Era hora de voltar para casa. Sentiu-se segura e soube que fez a escolha certa quando resolveu dar a vida aquela criança que já não chorava mais. O que ela desejava antes não parecia mais importante que cuidar de uma vida. Desconsiderou como sacrifício e percebeu como oportunidade de fazer algo belo. Percebeu que é muito fácil querer as coisas da vida, mas o importante é o que você tem a dar para ela. 

 

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