O Gelo de Dinartea

 

 

Aodh: Faz oitenta e cinco anos e ele continua lá...

 

Essoby: Nossa, oitenta e cinco anos, será possível? Como alguém consegue chegar a tal ponto?

 

Aodh: Eu não sei, não entendo. Não é algo que se entende.

 

Essoby: Você sabe como foi?

 

Aodh: Sim, eu estava presente, vi tudo.

 

Essoby: E como aconteceu?

 

Aodh: Tem certeza de que quer ouvir? Para um menino da sua idade, não sei se seria o certo te contar.

 

Essoby: Eu sei que não deveria estar perguntando sobre a tragédia dos outros, mas quero saber como ela morreu. Foi ele quem a matou?

 

Aodh: Não! Quer dizer, não sei... Foi tudo tão estranho, tão rápido. Mas ele não foi o culpado, se fosse, não estaria ao lado dela até hoje.

 

Essoby: Anda, me conta logo o que aconteceu há oitenta e cinco anos.

 

Aodh: Está bem, mas depois não diga que eu não avisei. Este homem que vemos chorando se chama Adamo, e a mulher em seus braços, ninguém conhece, ninguém sabe quem ela é e nem como foi parar congelada no cristal.

 

Essoby: Como assim? Congelada no cristal?

 

Aodh: Sim, neste lugar tão esbranquiçado que estamos. Adamo quando tinha sua idade me pedia para trazê-lo aqui todos os dias para ver esta moça, ela antes estava congelada dentro de um cristal de gelo enorme, Adamo simplesmente sentava diante dela e passava o dia todo a admirá-la. Não sentia fome nem sede, não possuía nenhuma vontade a não ser olhar a moça, depois de um tempo ele até começou a dormir junto do cristal, no frio deste lugar coberto de neve, ele nunca ficou doente.

 

Essoby: Mas o que o mantinha vivo?

 

Aodh: Ninguém sabe, alguns falavam que era feitiço, outros falavam que era farsa, mas eu acho que era amor. O jeito que ele a olhava, que parecia cuidar dela, não me enganava, o que mantinha Adamo vivo era o fogo do amor.

 

Essoby: Mas alguém pode viver só de amor?

 

Aodh: Não sei, eu nunca vivi um grande amor, mas acho que quem saberia te responder tal pergunta é o próprio Adamo, se ele conseguiu...

 

Essoby: Será que eu também consigo?

 

Aodh: Se o seu amor for tão puro e tão forte como o dele, talvez sim.

 

Essoby: E o que aconteceu depois?

 

Aodh: Ele começou com uma obsessão de tirá-la do gelo, de conhecê-la. Tentou perfurar, aranhar, cortar, triturar, mas nada danificava o cristal. Até ele entrar em desespero. Eu falava que não era uma boa idéia, que as coisas poderiam ficar piores, mas ele não me ouviu, ele só escutava o seu coração e a mais ninguém.

 

Essoby: E o que ele fez?

 

Aodh: Ele fez um pedido para Moneta. Eu não fui com ele, não tive coragem, ele foi sozinho e tão decidido que acho que deveria tê-lo impedido. Quando ele chegou, apenas falou que Moneta tinha solucionado seus problemas, que conseguiria tirar a moça de dentro do cristal, foi ai que tudo começou. Moneta deu o poder do fogo para Adamo derreter o gelo.

 

Essoby: O poder do fogo? Eu queria ter o poder do fogo!

 

Aodh: Cuidado com o que deseja menino. Um desejo em vão pode se tornar em um pesadelo interminável. Foi o que aconteceu com Adamo, ele começou a derreter o cristal, não conseguiu parar, não controlou o poder antes de usá-lo. Só ouvi os gritos da moça e vi as lágrimas na face dele, quando o fogo cessou finalmente, o gelo havia se derretido e a moça estava morta, queimada. Ele a abraçou e a segurou até hoje, não saiu do lugar desde aquele dia e continua chorando o luto.

 

Essoby: Está chorando por ela faz oitenta e cinco anos?

 

Aodh: Sim e aparenta continuar vivendo de amor. Pobre Adamo, eu já tentei tirá-lo de lá inúmeras vezes, mas ele não quer se separar dela, me falava que seu desejo ainda não tinha se realizado, colocava a culpa em Moneta.

 

Essoby: Nossa, que triste, eu acho que jamais suportaria a dor de perder quem eu amo. Poderíamos falar para ele que a Lua cheia está chegando e que ele pode fazer um pedido.

 

Aodh: Ele faz isto todas as luas cheias desde que viu a moça pela primeira vez congelada no cristal. 

 

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